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Do limão, façamos limonadas.

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Chimena Gama.

Pouco tempo antes de nossas vidas serem invadidas pela pandemia e a quarentena, eu tratava junto aos sétimos anos a questão do uso consciente da internet e dos perigos que podem envolver seu mau uso. Como mãe e professora, a preocupação é a da maioria dos pais e educadores: os jovens usam demais a rede, alguns são até mesmo viciados, e nem todos têm noção dos perigos e das maldades que ali pode haver.

Mas, em certo momento, falamos também sobre como a internet, embora apresente esses riscos, é importante e útil em nossas vidas, e como é repleta de coisas boas, servindo para informar, distrair, aproximar as pessoas. Uma aluna até mesmo a comparou com a Caixa de Pandora, cujo mito fala de uma mulher que recebeu uma caixa dos deuses e estava proibida de abri-la; não respeitando a proibição, abriu-a e de lá saíram todos os males da humanidade. Pandora, assustada, fechou a caixa, sem ver que, no fundo, havia também coisas boas, que ela não liberou. Pois bem: uma estudante sagaz fez essa comparação: a internet pode ter coisas ruins, se mal usada, mas no fundo é cheia de coisas boas.

E não é que essa frase cai como uma luva para os tempos atuais? À distância de pessoas que amamos e de nossos trabalhos e escola, usamos a ferramenta como meio para nos aproximarmos de todos. Se essa pandemia tivesse nos atingido quando eu tinha a idade dos meus alunos, há mais de vinte e cinco anos, certamente o estrago psicológico seria muito maior: como eu teria aula? Como eu conversaria com minha avó? Como eu veria as pessoas distantes? A internet é nosso escape, nossa maior aliada em tempos tão difíceis.

E, para os estudantes, a saída são as aulas online.

Não é, de forma alguma, a melhor forma de se ter aula. Nada se compara à presença, aos olhares, ao fato de nós, professores, podermos “ler” a linguagem gestual dos alunos. Mas, é o que temos como saída, a única possível. E, como diz o ditado, vamos fazer do limão uma limonada. 

Algo bastante positivo é que os alunos têm aprendido a lidar com novas ferramentas digitais muito importantes. Se eles sabiam usar a internet, era somente para lazer. Era comum vermos nossos jovens sabendo tudo sobre sites de games, redes sociais ou vídeos no YouTube, mas nada sobre como usar o Word, edições de textos ou ferramentas desse tipo. Agora, estão tendo que lidar com docs, drives, enfim uma série de ferramentas muito úteis e que farão parte de seus repertórios (isso está ocorrendo, também, conosco, os professores).

Outro fator importante é a autonomia que os estudantes estão ganhando. Há muito que educadores discutem as chamadas metodologias ativas, que fazem com que os alunos tenham maior participação no processo de aprendizagem e sigam não apenas como expectadores passivos, mas como protagonistas e ativos no próprio aprendizado. Com as aulas à distância, nossos jovens são obrigados a buscar mais com independência, precisam ler e entender sem ter o tempo todo o professor ao lado e criando, assim, novas estratégias para conseguirem chegar ao entendimento. Sem dúvida, essa é uma grande revolução e um enorme ganho, se o jovem tem realmente interesse e disciplina; o professor passa a ser o que realmente deve ser: um facilitador de conhecimento, aquele que ajuda o aluno a entender melhor o que ele já leu, buscou e tentou fazer.

Por fim, a organização e a disciplina requeridas pelo sistema de aulas online fazem com que o jovem precise desenvolver essas virtudes. Elas deveriam existir em qualquer tempo, com ou sem pandemia, mas sabemos da dificuldade que um adolescente tem em ser organizado, ter pontualidade e ser disciplinado. Com as aulas ocorrendo a distância, depende muito deles fazer com que tudo dê certo, sua vontade precisa ser educada; sua atenção, redobrada.

Sabemos que todos estão sofrendo com a situação, e, para os estudantes, tem sido difícil. Mas tudo são aprendizagens. A escola da vida é também tão didática quanto aquela que fica em um edifício. E essa quarentena nos tem mostrado que é possível tirar proveito até das situações mais adversas. Que nossos estudantes consigam crescer e se desenvolver cada vez mais, apesar de tudo! E boa limonada!