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Para que ter aula de português? Prof. Dr. Chimena Barros da Gama.

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Uma brincadeira que costumo fazer com meus alunos, sobretudo os novos, no início das aulas, é perguntar: “Para que ter aula de português, ‘né’? Se já aprendemos a falar o idioma quando somos pequenos! Ora! Todos já sabemos português!”. É uma piadinha…, porém também é um desafio, uma chamada à reflexão.

Na mesma hora, espertos que são, buscam respostas a essa provocação: “Para escrevermos corretamente!” – alguns dizem – “Para sabermos a ortografia!” – afirmam outros. Todos estão certos e só acrescento: nós temos aulas de português para a vida. Temos todas as aulas, na escola, para a vida!

A Base Nacional Comum Curricular já traz essa diretriz, pois recomenda que sejam desenvolvidas dez competências nos estudantes: conhecimento; pensamento científico, crítico e criativo; comunicação; conhecimento da cultura digital; autoconhecimento; repertório cultural; responsabilidade; empatia; argumentação; trabalho e projeto de vida. Se bem analisada, essa proposta nada mais é do que o reflexo daquilo que a escola deve ser: uma preparação para a vida adulta e seus desafios.

            O aluno não vem à escola para decorar regras, ler e escrever coisas com pouco sentido para ele, ganhar nota. Os muitos aspectos ligados à vida escolar – as regras, a escrita, a leitura, as notas, os trabalhos, o material – são, todos, parte dessa soma de competências que formam solidamente uma criança e um jovem para o futuro.

            Voltando à questão inicial, o educando não aprende português para saber escrever as palavras ou para passar no vestibular, no qual a redação tem peso tão grande. Ele se aprofunda em seu idioma materno para comunicar-se melhor e compreender melhor também o mundo ao seu redor. Não se trata somente de escrever e ler palavras, mas de fazer uma leitura atenta do mundo, dos gestos, das imagens, dos símbolos. É aprender a ver uma notícia e saber se ela é ou não verdadeira; é compreendê-la e perceber a intencionalidade do veículo que a transmite; é assinar um contrato com consciência do que se faz; é reconhecer a ironia na letra de uma canção; é, enfim, estar preparado para ir além da superfície.

            O Português é para a vida, a Matemática, as Ciências, a História e Geografia, as Artes, a Educação Física… a escola é para a vida. Nunca se fez tão necessário o ensino formal, pois vivemos um momento em que aprender através da internet parece uma febre. E, no entanto, quanta ganga no meio das pedras preciosas que a rede nos oferece!

            Sim: a escola tem papel fundamental no desenvolvimento das crianças e dos jovens e o aprendizado vai muito além de um conteúdo estanque ou artificial. Saber português, por exemplo, é estar livre para cantar “Fizemo a urtima viage”, a linda canção caipira que nos remete a uma tragédia – olha aí os caipiras e os gregos dando as mãos! – e, ao mesmo tempo, usar os verbos corretamente nos tempos e modos adequados sempre que necessário. É para a vida!